Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul afirmam pobres não podem sofrer porque nações desenvolvidas não souberam crescer sem destruir o planeta.
Vinte anos depois da Eco-92, o
mundo não é mais bilateral, com alinhamentos orientados de acordo com o que
ditavam Estados Unidos e Rússia. Tampouco é viável dividir o planeta entre
ricos e pobres. Entender o mundo em que ocorre a Rio+20 exige ter consciência
de que dentro de nações extensas como Brasil, Rússia, Estados Unidos e China há
regiões prósperas e zonas de pobreza com necessidades particulares.
Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul têm quase metade da população mundial, 40% do território do planeta e um PIB que, segundo o
Fundo Monetário Internacional, pode ser superior ao da União Europeia em 2012.
Durante a Rio+20, os Brics usaram
a tribuna da reunião de cúpula para cobrar que os países ricos assumam as
promessas que fizeram em 1992 de poluir menos e preservar as espécies do
planeta. Mostraram exemplos de desenvolvimento sustentável já alcançados
internamente e defenderam que os mais pobres não podem sofrer porque os países
mais ricos não souberam crescer sem destruir o planeta. Confira o que cada país
defendeu em discurso para os chefes de estado na Rio+20:
Os Brics na Rio+20
Brasil
Em seu discurso para a cúpula da
Rio+20, Dilma cobrou a conta de promessas não entregues pelos países
desenvolvidos e promoveu o Brasil como modelo sustentável. "O Brasil soube
crescer democraticamente ao mesmo tempo que promoveu inclusão social e protegeu
o meio ambiente", disse a presidente. Dilma usou compromissos adotados
voluntariamente em Copenhague, em 2009, para cobrar de países mais ricos que
assumissem metas mais ambiciosas para acelerar o desenvolvimento sustentável do
mundo.
Dilma destacou o que considera
conquistas da Rio+20, como a criação de um fórum de alto nível para o
desenvolvimento sustentável, o fortalecimento do Pnuma, a ampliação da
participação da sociedade civil, a adoção de um processo para a redução dos
padrões de consumo e produção e o reconhecimento da insuficiência do PIB para
medir as riquezas de um país.
"Cabe a nós, dirigentes
mundiais, demonstrar capacidade de liderar e de agir, quando os olhos e coração
do mundo estão voltados para essa cidade. Nesse momento histórico, temos plena
consciência que o futuro das próximas gerações aguarda nossas decisões",
disse.
Rússia
O primeiro-ministro da Rússia,
Dmitri Medvedev, afirmou que seu país acredita em um processo global para
promover o desenvolvimento sustentável e está disposto a fazer a sua parte,
cumprindo as responsabilidades de redução da emissão de gases causadores do
aquecimento global. "A Rússia é um doador ambiental, com recursos naturais
significativos, que ocupam um sétimo do nosso globo. Estamos mantendo as nossas
responsabilidades", disse.
Medvedev, que veio ao Rio
representar o presidente Vladmir Putin, afirmou que seu país é a favor da
representação das ONGs e que a WWF e o Green Peace são bem-vindos na Rússia.
"As ONGs podem ser parceiras, difíceis e críticas, mas é por isso mesmo
que os governos devem apoiá-las", disse.
Entre as medidas necessárias para
a promoção do desenvolvimento sustentável, Medvedev citou as inovações em
tecnologias combustíveis e o aumento da eficácia na agricultura. O
primeiro-ministro afirmou também que é preciso promover a sustentabildiade nas
grandes cidades e que a Rússia vai acompanhar todos os esforços para a proteção
marinha sob o Tratado Internacional dos Mares.
Índia
Jawaharlal Nehru, primeiro
ministro da Índia, cobrou ação dos países ricos para ajudar os pobres no
desenvolvimento sustentável. Nehru lembrou das "responsabilidades comuns,
porém diferenciadas", noção de que os países desenvolvidos precisam ajudar,
com dinheiro e tecnologia, os mais pobres crescerem de forma sustentável.
"Muitos países poderiam fazer mais se tivessem disponibilidade financeira
e tecnológica", disse. "Infelizmente parece não haver muito apoio dos
países desenvolvidos para essas nações", disse.
Nehru disse que a Índia está
fazendo o dever de casa e indo além. O país, segundo o primeiro-ministro,
conseguiu reduzir a intensidade per capita de emissões de gases que aceleram o
efeito estufa entre 1994 e 2007, excluindo o setor agrícola, em 25%. A
conquista serviu de argumento para o premiê indiano cobrar que das nações mais
do que se espera delas. "Devemos adotar esforços proativos para o
desenvolvimento sustentável", disse.
China
A china, representada pelo
primeiro ministro Web Jiabao, anunciou a criação de dois fundos para ajudar
países pobres no desenvolvimento sustentável e proteção ambiental. Ao todo, 37
milhões de dólares estarão disponíveis para os países que quiserem fazer parte
de uma rede global de cooperação tecnológica baseada em programas piloto de
vários países para combater as mudanças climáticas em países pobres.
"Queremos promover as melhores práticas de desenvolvimento sustentável
criando projetos internacionais de cooperação", disse Jiabao.
Jiabao também defendeu que os
países em desenvolvimento ricos. Assim como os outros membros dos BRICs,
reafirmou que as nações pobres têm responsabilidade comum, mas diferenciada em
relação ao desenvolvimento sustentável. O premiê criticou a distância que
existe entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. "Queremos um mundo
mais próspero e verde. Nesse novo mundo não há pobreza, discriminação, nem a
destruição da natureza", disse. "No mundo de hoje, não há mais
continentes a serem descobertos. Preservar os recursos e o ambiente para o
desenvolvimento sustentável é a única escolha que nos resta."
África do Sul
O presidente da África do Sul,
Jacob Zuma, dedicou seu discurso para lembrar dos Objetivos de Desenvolvimento
do Milênio (ODM), estabelecidos em 2002 durante a 'Rio+10', cúpula da ONU organizada
em Johanesburgo. Os ODM são metas para acabar com a pobreza, fome, iniquidade
entre sexos, doenças graves e oferecer bases para o desenvolvimento sustentável
até 2015. "Reconhecemos que a paz global só seria atingida quando crianças
africanas não mais morressem por desnutrição e doenças. Johanesburgo nos
convocou a mudar nossos padrões insustentáveis de consumo e produção",
disse.
Para Zuma, os Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio não podem perder força à luz dos Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável, um dos objetos do documento final da Rio+20.
"Devemos desenvolver, integrar e fortalecer os ODM que inspirarão nações
ao desenvolvimento sustentável."
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